quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão [1982]


(de Woody Allen. A Midsummer Night's Sex Comedy, EUA, 1982) Com Woody Allen, Mia Farrow, José Ferrer, Julie Hagerty, Tony Roberts, Mary Steenburgen. Cotação: ***

Presente nas grandes coleções à venda de Woody Allen, na verdade é um dos mais esquecíveis do diretor, e me arrisco a dizer que seja um dos títulos mais fracos dele nos idos dos anos 80. Não chegou a ser levado a sério, tendo conseguido uma indicação ao Framboesa de Ouro (o Oscar dos medíocres) de pior atriz para Mia Farrow. Ela, por sinal, marca aqui o início de uma duradoura parceria com Allen, que viria a ser seu esposo, que por sua vez e planejava este papel para Diane Keaton, atriz que recusou o projeto por estar envolvida na campanha de divulgação do filme “Reds”, estrelado ao lado de Warren Beatty e quase lhe rendeu um Oscar de melhor atriz. Mas voltando a Mia Farrow, a atriz de voz enjoada e semblante puritano está arrasando corações na história, o que fica difícil de ser levado a sério.

Não sabemos bem quando se passa a história (a sinopse dá conta do inicio de 1900), quando o “inventor excêntrico” Andrew (Woody Allen) e sua esposa Adrian (Mary Steenburgen) estão passando por uma delicada crise sexual, mas estão pra receber visitas em sua casa de  campo. São eles, um primo de Adrian, o professor universitário, filósofo e erudito Leopold (José Ferrer) e sua noiva bem mais jovem, Ariel (Mia Farrow), e ainda o amigo de Andrew, o médico mulherengo Maxwell (Tony Roberts) e a enfermeira Dulcy (Julie Hagerty). O que os três casais não poderiam esperar é que o passado de um está ligado ao outro, ou surgem atrações momentâneas, que resultam em uma verdadeira ciranda amorosa.

Sim, o nome tem algo a ver com “Sonhos de Uma Noite de Verão”, umas das principais peças de Shakespeare, que data no final do século XVI, mas tem ainda uma maior relação com “Sorrisos de Uma Noite de Verão”, filme de 1955 do diretor Ingmar Bergman. Woody Allen, sempre ligado nos mais variados temas e movimentos culturais de épocas distintas, quis brincar com as situações correspondentes entre a peça e o filme que ele adaptou da forma mais liberal possível. Existem as suas características visíveis, como a descarada crítica que ele faz à figura do esteta/acadêmico, aqui interpretado pelo ator José Ferrer (1912–1992), e algumas das mais notórias frases de efeitos que ele cria, como "o casamento é a morte da esperança" ou "o sexo alivia a tensão, o amor a causa". Exemplos soltos de afirmações que o tornam um verdadeiro cineasta-filósofo.

“Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”, no final das contas, não chega a ser um filme que faz jus a extensa lista de roteiros brilhantes de Allen. Aqui ele está mais modesto, deixando de ser um protagonista para dividir atenção com um elenco até grande para os moldes de seus filmes. Também não criou uma história inteiramente imaginativa (como disse, as referências são óbvias), e precisa de uma maior liberdade poética para aceitar algumas situações forçadas, principalmente quando existem bolas de cristal, objetos voadores e ectoplasmas na floresta. Porém, isso acaba proporcionando ótimas discussões entre os personagens mais “místicos” e o cético professor universitário que ficou famoso por escrever um livro criticando ferozmente a metafísica. E apesar do potencial dessa ideia, não tem como escapar de uma alusão que o filme faz e que demonstra certo desleixo criativo de Allen no indecoroso desfecho. 

Afinal, seriam os vagalumes a essência de alguém que morreu no auge da paixão?

Uma pergunta profunda, se não fosse risível.

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