quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma Vida Melhor [2011]


(de Chris Weitz. A Better Life, EUA, 2011) Com Demián Bichir, José Julián, Nancy Lenehan, Gabriel Chavarria, Carlos Linares. Cotação: **** 

Filme sobre o sonho americano representado por imigrantes ilegais não deixa de ser um daqueles clichês recorrentes. Dentre tantos títulos que podem servir como exemplo, lembro bem de "Terra de Sonhos", filme de 2002, protagonizado por Samantha Morton. Neste caso em específico, uma família de irlandeses vai morar ilegalmente num apartamento humilde nos EUA, passando pelos maiores perrengues, mas sempre com um mínimo de satisfação por estarem planejando um sonho que parece ser conseguido somente por estarem naquele lugar. “Uma Vida Melhor”, guardadas as devidas proporções, trata do mesmo tema, em uma obra na qual os momentos felizes são pontuais, e as dificuldades de uma vida beirando a tragédia se faz presente em cada centímetro da película. 

No subúrbio de Los Angeles, o mexicano Carlos Galindo (Demián Bichir) tenta ganhar a vida como pode, fazendo das tripas coração para se manter num país onde mora ilegalmente, numa vida de riscos junto ao seu filho adolescente, Luis (José Julián), de 14 anos. Este, por sinal, pouco se importa se seu pai precisa trabalhar exaustivamente como jardineiro, porque sabe que o máximo que ele vai conseguir é exaustão, num meio onde os jovens mexicanos precisam, como aparente melhor opção, juntar-se a gangues latinas na periferia norte-americana que não são comandadas por negros. Carlos, um homem íntegro e batalhador, terá que enfrentar as piores situações quando tem suas ferramentas roubadas por um homem em que ele julgava ser íntegro como ele, sempre com o perigo da deportação batendo à sua porta. 

Todos já devem saber que a grande carta do filme está na indicação de Demián Bichir como melhor ator no Oscar 2012, tirando a vaga que estava sendo disputadíssima entre Ryan Gosling (por “Drive” ou “Tudo pelo Poder”) e Michael Fassbender (por “Shame”), dois dos maiores destaques do cinema no ano passado. Ver Bichir entre os finalistas foi uma grande surpresa, ainda mais se levar em consideração suas chances praticamente mínimas. O ator, de fato, faz um trabalho excelente, embora eu tenha ficado um tempo – por menor que fosse – para desassociar sua imagem da série “Weeds”, onde interpretou um chefão de um cartel de drogas mexicano, que perseguiu Nancy Botwin por uma temporada inteira. Terminado o filme, Demián Bichir já estava com um conceito supra elevado, graças ao seu trabalho simplório, mas que continha uma carga que me emocionou bastante. 

Já um ponto do próprio filme que o faz ser tão bom é a contraposição entre pai e filho, que inicialmente pouco se relacionam, mas que vão ganhando uma interação comovente. Luis, o típico aborrecente que não dá o devido valor da luta social que seu pai enfrenta, chega até a desdenhar de suas raízes chicanas. Fica a cargo do seu próprio pai resgatar as lembranças culturais e familiares do menino, em duas ou três cenas de conversa que acabam sendo as melhores do filme. Isso sem contar as diferenças até mesmo entre as personalidades dos dois. Carlos, o pai, é daqueles que chega a se auto-humilhar diante de algumas situações que exigem uma luta pela sobrevivência ou ter que demonstrar sua raiva. Já Luis, o filho, é mais levado por essa raiva, e, por conseqüência, é menos racional. E cada um traz a sua cota de humanidade para representar-se como personagem.

“Uma Vida Melhor” é dirigido Chris Weitz, um cara no sense que foi realizador de “Um Grande Garoto” (filme de 2002 que ele dirigiu ao lado de seu irmão Paul Weitz) e também dirigiu a segunda parte do caça-níqueis “Crepúsculo”. Em meio a tantas incoerências, “Uma Vida Melhor” comprova o seu talento escondido em algum lugar.

4 comentários:

  1. Taí um filme que tenho relutado em assistir. Gosto até do diretor, mas algo realmente não me chamou a atenção. Tb não sei dizer ao certo o que. Gostei muito do seu texto, renovou meu folego para assistir essa obra. Vamos ver se o faço esses dias.

    Abração!

    ResponderExcluir
  2. Grande atuação de Bichir.
    Adecio, vc anda sumido, apareça. Estou sempre por aqui.

    O Falcão Maltês

    ResponderExcluir
  3. Ola Adécio,pela matéria escrita deve ser um bom e interessante filme.Vou acrescentar aos que me propus a ver até junho.O tempo anda passando muito rápido......Grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Nem sabia que o filme tinha a direção de Chris Weitz, que realmente tem uma filmografia bastante "peculiar". Vou ver o filme em breve. Ainda mais agora depois deste seu texto!

    ResponderExcluir